O tapa na cara da Helena de Taís Araújo e o racismo estrutural nas novelas da Globo

O tapa na cara da Helena de Taís Araújo e o racismo estrutural nas novelas da Globo

O autor de novelas Manoel Carlos concebeu “Viver A Vida” (2009) e teve oportunidade de fazer história ao ter a atriz Taís Araújo como a primeira protagonista negra a interpretar um papel de protagonista no horário nobre da Rede Globo, a popular “novela das nove”. No entanto, o folhetim ficou mas conhecido pela irregularidade, por quase acabar com a carreira de Araújo e também pela famigerada e tosca cena exibida no capítulo 55, quando Helena (Taís), uma mulher negra, ajoelhada, leva um tapa no rosto de Tereza (Lília Cabral), uma mulher branca, em plena semana do Dia da Consciência Negra. A indicação com a cena era de um total descaso com o simbolismo do Novembro Negro e da manutenção do racismo do autor e do racismo estrutural no audiovisual brasileiro.

Claro, os ignorantes alegarão que atrizes brancas já foram esbofeteadas em novelas antes. É da natureza do ignorante…ignorar. Ignorar semiótica, simbolismos e interpretações mais complexas sobre texto, contexto e subtexto.

Expor a primeira Helena negra a uma humilhação perto do Dia da Consciência Negra, data que ainda buscava consolidação em 2009, foi de uma aberração atroz.

Veja que para além da cena em si, essa foi a Helena mais criticada e mais apagada dentro da obra de Manoel Carlos. O autor passou longe do carinho com que tratou todas as outras que brilharam em ‘Baila Comigo’, ‘História de Amor’ e ‘Laços de Família’. A Helena de Taís Araújo tinha uma vida estável e virou personagem terciário na trama, atrás da personagem da própria Líilia Cabral e da Luciana, vivida por Aline Moraes.

A personagem da atriz negra, basicamente foi resumida a sentir culpa pelo acidente de Luciana, essa sim, ganhando destaque gigantesco na trama.

Taís, mulher inteligente que é, percebia o tratamento frágil que sua personagem recebera. “Eu fui achando que seria a chance da minha vida, e não era. Aquele texto não me dizia nada, eu me sentia a professora do Snoopy. Eu não fazia bem e não sei se tinha como fazer. Me sentia em uma areia movediça, patinei até o fim”, comentou ela em 2017.

Felizmente ela não precisou e nem precisava de Manoel Carlos para se tornar uma das maiores atrizes de sua geração.

Última atualização em: 16 de setembro de 2024 às 17:54

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