Jo Mouallem dá dicas para artistas que querem fazer shows fora do Brasil, e fala sobre a carreira nos EUA

A brasileira, vivendo em Los Angeles, tem se tornado uma ponte valiosa entre os artistas brasileiros e a indústria musical norte-americana
A booking Jo Mouallem dá dicas para artistas que querem fazer shows fora do Brasil, carreira nos EUA e a trilha sonora de Velozes e Furiosos

Radicada nos EUA desde 2019, a booker ( profissional responsável pela venda de shows de artistas), Johayna El Mouallem abandonou uma promissora carreira publicitária no Brasil para ir pra Los Angeles (Califórnia), na cara e na coragem, realizar o sonho de trabalhar com música.

Construindo uma bela carreira lá fora, Jo (como é conhecida) vem trabalhando com figurões como o músico, compositor e produtor Jason Evigan (e sua banda Elephant Heart) e o empresário Mike Caren, da Artist Partner Group (APG), com quem participou da produção da trilha sonora de Velozes e Furiosos 10 (2023).

Atualmente, se dedica a ser uma forte aliada dos artistas brasileiros no exterior, fazendo o que pode para estreitar laços e ampliar pontes entre as indústrias musicais dos dois países, a exemplo do trabalho que desempenhou na construção da turnê internacional dos Gilsons.

 Jo Mouallem fala sobre carreira nos EUA, trilha sonora de Velozes e Furiosos 10 e dicas para artistas que querem se aventurar fora do País
Jo junto com o Gilsons

Jo bateu um papo com a gente sobre carreira, mercado musical e dicas valiosas para artistas que pretendem se aventurar em terras estrangeiras, que você lê a seguir.

Em 2020, você deixou uma carreira bem-sucedida em uma startup para se mudar para Los Angeles. O que a motivou?

Eu sempre tive dentro de mim uma vontade muito grande de trabalhar com música, mas nunca tinha externalizado. Eu nunca fui musicista, mas sempre tive um amor e interesse muito grande por música e pelo ao vivo. Em 2016, quando saí da faculdade, comecei a ver alguns cursos e encontrei uma certificação, quase como uma pós, na UCLA [Universidade da Califórnia em Los Angeles] , em Music Business. Eu tinha acabado de ser contratada por uma multinacional super conceituada para trabalhar na área de eventos, então acabei deixando essa vontade de lado, mas ela sempre ficou no fundinho dos meus pensamentos.

Em 2019, decidi ir atrás dessa vontade. que parecia estar me chamando. Preferia a certeza de ter tentado do que passar a vida toda pensando ”e se”. O pior que poderia acontecer era dar errado e eu voltar pro Brasil. Dediquei o ano a fechar muitos jobs, fazer uma poupancinha e todas as provas necessárias para me aplicar para UCLA.

Eu realmente não imaginava que eu ficaria aqui tanto tempo. Vim de coração aberto, cheio de desejos, mas uma mente realista e consciente de todos os desafios. Mudar de país com uma carreira consolidada no Brasil significa começar do zero, e eu abracei isso e fiz tudo de novo – estágio, assistente. É como se você precisasse aprender a andar pela segunda vez, mas dessa vez com algum know-how e conhecimento de alguns atalhos.

Você já imaginava que iria se estabelecer lá, no ramo musical, e trabalhar com lendas como Jason Evigan e Mike Caren?

Não e sim. É muito doido, porque eu não sei explicar: uma coisa dentro de mim dizia que algo ia dar certo e eu precisava continuar aqui apesar dos perrengues. A UCLA te dá a oportunidade de estagiar durante o curso e, depois, a possibilidade trabalhar por um ano no país, então meu foco era conseguir um estágio o mais rápido possível. Infelizmente, eu me mudei para Los Angeles em 2020, então a pandemia foi muito intensa, assim como toda a indústria. com tudo online, o maior atrativo do certificado, que era o networking, foi praticamente nulo.

Nesse meio tempo o artista que eu trabalho como empresária, RAF AWADA, estava mixando uma música com o engenheiro e mixer do Jason Evigan, que também era brasileiro. No vai e vem de track, conversei com ele que eu estava procurando um emprego nos EUA, e ele me disse que a esposa do Jason, Victoria Evigan (50% do Elephant Heart) estava procurando uma assistente pessoal, que era algo muito “diferente e ‘inferior”’ ao que eu estava fazendo no Brasil, mas que ele podia me indicar. Falei que eu só precisava de uma chance para entrar no mercado, a partir disso eu me virava. Assim comecei a trabalhar com a Victoria, depois com o Jason, depois com o Elephant Heart, como tour manager, e, mais adiante, com a Chumba Music, que era a publishing company do Jason. Depois de um ano, conversei com o Jason e disse que tinha muito carinho por eles, mas queria ver um pouco do dia a dia do business, agora que eu já tinha aprendido tanto sobre o lado artístico. Ele foi super querido, e fez a ponte para eu trabalhar com o Mike Caren.

Qual foi o maior aprendizado que você teve durante a convivência com tantos profissionais e artistas incríveis?

Que esse mundo é muito pequeno mesmo, independente do país que você está. Eu já tinha essa sensação trabalhando no Brasil, mas a indústria daqui é muito mais conectada. Suas conexões são o que você tem de mais importante. Também é preciso ser muito discreto aqui. O que você viu e ouviu morre com você. Muita coisa que você escuta nos estúdios, por exemplo, só serão lançadas um ano depois.

Você tem se esforçado para fazer uma ponte entre artistas brasileiros e o mercado norte-americano, a exemplo da sua parceria com os Gilsons. Quais são os próximos passos que você vislumbra?

Eu acredito que tudo acontece por uma razão. Muitos dos contatos que eu tive na minha carreira do Brasil hoje são conexões parceiras com as quais estamos desenvolvendo projetos lindos. Meu próximo passo, se possível, é fazer uma tour completa de um grupo que eu amo muito em 2025, mas que ainda não posso falar.

Quais são as diferenças entre a cadeia produtiva musical nos EUA e no Brasil?

Eu, particularmente, tenho uma opinião meio invertida, porque eu aprendi primeiro como funcionava nos EUA e depois comecei a desbravar o Brasil. Eu diria que aqui a burocracia é mais organizada e os papéis são mais definidos. Por exemplo: legalmente, no estado da Califórnia, um empresário é proibido de vender shows – isso é considerado ”double dipping”, que significa que o empresário estaria sendo remunerado duplamente como empresário e booker [profissional responsável pela venda de shows de artistas]. Então o artista precisa ter um agent/booker, coisa que é super normal no brasil.

Nesse aspecto, sabendo a dificuldade que os artistas brasileiros têm para expandir seu alcance, o que você recomendaria como boas práticas para os artistas nacionais?

Eu diria que hoje, infelizmente, muita gente tira vantagem de artistas brasileiros que querem fazer uma tour internacional e não conhecem os ”protocolos”, ou como isso pode ser feito de maneira mais simples, e acabam aceitando propostas que só são benéficas aos contratantes. Ter um agent/booker internacional ajuda muito nesse aspecto, porque você tem uma pessoa ”lutando por você”, mas eu entendo que isso é difícil para artistas iniciantes. Eu aconselharia que, antes de qualquer coisa, se você estiver planejando fazer uma tour internacional, falasse com um advogado especializado nisso, que vai te mostras as alternativas. E NUNCA vá fazer um show a trabalho com visto de turista! Ahaha!

Por último, não poderíamos deixar de mencionar: como foi trabalhar com a trilha sonora de Velozes e Furiosos? Isso é muito irado!

Foi incrível! Quando eu entrei na APG, eles estavam nos seis meses finais do projeto, correndo atrás das últimas músicas para finalizar. Confesso que foi de arrepiar ouvir pela primeira vez uma música da Ludmilla com o Skrillex em uma sala cheia de A&Rs americanos. É muito especial ver a nossa música chegar em franquias tão relevantes como Velosos e Furiosos. Também foi incrível ver o processo criativo do Mike, como ele visualizou os feats para cada música, cada versão que chegava e as alterações que ele sugeria. Deu pra entender porque ele é quem ele é.

Última atualização em: 30 de agosto de 2024 às 11:37

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