Edital Mulheres em Movimento 2024 fortalece a atuação de mulheres e pessoas trans negras em organizações de todo o país

Grupos atuam na luta contra o racismo e a sub-representação de mulheres negras na política

O Edital Mulheres em Movimento 2024 – por Democracia, Justiça de Gênero e Climática, realizado em parceria entre o ELAS+ Doar para Transformar e a ONU Mulheres, selecionou 62 grupos e organizações lideradas por mulheres de todas as regiões do Brasil, para receber até R$ 50 mil cada uma, de apoio flexível para o fortalecimento institucional. Entre os grupos selecionados, diversos são liderados por mulheres negras com ação voltada à defesa de uma sociedade mais justa e antirracista. As organizações atuam em diversas frentes, tendo a luta do povo preto como denominador comum, incluindo direito aos territórios quilombolas, valorização dos saberes ancestrais, fortalecimento e valorização do trabalho de mulheres negras, além de outras temáticas que buscam a equidade de raça.

Esta é a oitava edição do programa, que chega ao montante de R$ 3 milhões para distribuir entre grupos, com ou sem registro formal (CNPJ), que trabalham na defesa da democracia e em questões como luta antirracista, direitos LBTIs, direito à moradia e à saúde, direitos trabalhistas, direito à cidade, moda justa e sustentável, justiça climática e ambiental. Este ano, o edital recebeu quase 2 mil inscrições de grupos e organizações lideradas por mulheres cis, trans e outras transidentidades. O programa tem apoio de Channel Foundation, Equality Fund, Fondation Chanel e Levi Strauss Foundation.

No processo de seleção dos grupos, foi levada em consideração a relevância estratégica de cada um para as comunidades, em sua área de atuação e no universo do movimento social. Em defesa do território e saberes ancestrais, algumas das organizações concentram sua atividade em prol do trabalho desenvolvido por quilombolas, como é o caso da Associação de Mulheres Jongueiras Quilombolas de São Cristóvão (ES). O grupo tem promovido a preservação da memória e cultura do povo negro brasileiro por meio da manifestação cultural do jongo. As Chicas (MG), uma rede compostas por mulheres periféricas e quilombolas, LBT+, educadoras pretas, empreendedoras, agricultoras, extrativistas e artesãs do Alto Vale do Jequitinhonha, tem como foco a agricultura agroecológica, o extrativismo e a confecção de produtos artesanais baseada no melhor uso de recursos.

É também o caso da Associação Inter-Religiosa e Cultural Kingongo do Quilombo Quingoma (BA) que, com liderança matriarcal e intergeracional, tem suas atividades conduzidas por mulheres negras, visando a construção e perpetuação da memória coletiva da comunidade. O quilombo abriga descendentes de escravizados desde 1569, em uma antiga zona de engenho do Recôncavo Baiano.

O tema faz parte das ações de outros grupos, como o Coletivo de Jovens Empreendedoras/es do Quilombo do Engenho da Ponte (BA), que atua para fortalecer a identidade do quilombo a partir do fomento à autonomia de jovens negras e da defesa dos direitos comunitários, especialmente a garantia de acesso à terra e a preservação dos bens materiais, imateriais e ecossistemas dos quais depende a comunidade. Da mesma forma, o Coletivo de Mulheres Raízes do Sapê (ES) trabalha pela permanência das mulheres e seus filhos no território das 32 comunidades quilombolas do Sapê do Norte. E o Quilombo Pitanga de Palmares (BA), formado no século XIX, atualmente abriga cerca de 300 famílias que vivem da pesca, agricultura familiar e artesanato. O grupo luta pelo protagonismo e pela liderança dentro da comunidade, garantindo a continuidade e preservação do legado e da luta quilombola.

A defesa do território e da ancestralidade é tarefa primordial também de diversos grupos organizados em terreiros, como é o caso da Associação Beneficente e Cultural Africana Ilê Axé Ijobá de Oxum e Bará (RS), um território de resistência de saberes ancestrais afro brasileiros, sendo guardião e detentor de uma tradição milenar, que trabalha no enfrentamento à intolerância religiosa e ao racismo. Igualmente, o Ilé Asè Omode Títàn – Centro Cultural Mãe Bárbara de Jagun (RJ) age pela liberdade religiosa de culto e cuidado ancestral, além de promover o bem estar coletivo e a defesa dos direitos socioambientais, configurando um espaço de troca de saberes que compreende também os direitos sociais dos povos de terreiro. Já o Ilê Axé Obá Oyá Igbale (PB) tem como foco o empoderamento e a realização feminina na luta constante contra as formas de violência física, psicológica e espiritual que atingem as mulheres de terreiro.

O Edital Mulheres em Movimento apoia ainda o trabalho de organizações no fortalecimento e valorização das mulheres negras, como o Coletivo Mina Preta (RJ), que reúne mulheres negras jovens e adultas de bairros da cidade Volta Redonda para pensar e articular moda, sustentabilidade e geração de renda, e o Coletivo Negras de Periferia (RN), organizado por mulheres negras moradoras em favelas da capital potiguar que promovem discussões sobre periferia, racialidade e gênero pela perspectiva do feminismo negro. O grupo Meninas do Quilombo (BA) oferece possibilidade de empoderamento econômico e senso de comunidade entre as mulheres e tem como objetivo a formação de um fundo rotativo de apoio com cesta básica, exames ou medicamentos.

No Coletivo Preta Velha (RS) na região Sul do país, mulheres negras desenvolvem diversos projetos relacionados à luta por acesso a direitos e políticas públicas em educação, moradia, infraestrutura e segurança alimentar, além de favorecer a capacitação e gestão comunitária para fortalecer a autonomia local.

O Coletivo de Mulheres Negras ‘Maria-Maria’ – Comunema (PA) atua na região Norte pela visibilidade e fortalecimento de mulheres negras das periferias de Altamira e nas comunidades negras da Transamazônica e do Xingu, elaborando estratégias de enfrentamento coletivo contra a opressão, violência e violação de direitos. A Feira das Mulheres Pretas (PE) tem como objetivo promover o trabalho de mulheres negras, periféricas e empreendedoras, estimulando a sua potência criativa.

Esses são alguns dos grupos que atuam em defesa da população negra em todo o território nacional. Todas as organizações podem ser conhecidas aqui.

Última atualização em: 11 de setembro de 2024 às 0:17

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