Set AJC 2: Revelando a indústria machista do rap em 4 versos matadores de Ajuliacosta, Duquesa, LAI$ROSA e Mc Luanna

Apesar da presença feminina ser forte, a resistência às minas ainda é muito presente na cena hiphop
Set AJC 2: Revelando a indústria machista do rap em 4 versos

O Set AJC 2, lançado em fevereiro deste ano, soma mais de 700 milhões de views no YouTube e 1 milhão de streams no Spotify. A música é um feat entre Ajuliacosta, Duquesa, LAI$ROSA e Mc Luanna, e em cada uma das linhas que elas cantam, podemos fazer um recorte tanto da cena musical, quanto da sociedade.

Com fortes críticas à indústria do rap, que ainda não acolhe e ignora as mulheres dentro do núcleo, elas mostram que não dependem de ninguém para atingir o público. Apesar de existir uma forte presença feminina no gênero, os homens continuam a dominar o mercado, liderando os principais charts brasileiros.

Com as línguas afiadas e um tom sarcástico, as quatro artistas soltaram verdades na cara sobre a indústria musical durante o Set AJC.

Confira:

Ajuliacosta

Eles se fazem de louco / Mas conhecem Ajuliacosta

Na primeira parte do set, a rapper nascida em Mogi das Cruzes fala sobre a realidade de ser uma artista já consolidada, mas não obter o devido reconhecimento por isso. 

Ajuliacosta, que se apresentou no Cena Festival em 2023, é elogiada pelo público por sua qualidade na entrega, tanto musical, quanto estética e performática. Mesmo com uma base fiel de fãs e com músicas que eventualmente têm estourado a bolha, o nome dessa e de outras artistas permanece longe do reconhecimento geral. 

Ajuliacosta é dona de hits como ‘Não Foi do Nada’ e ‘Homens Como Você’ (Foto: Reprodução)

MC Luanna

Sei que essas mina te abala / Pra ocupar um lugar / Que pra você ficar, cê se humilhava

Por outro lado, mesmo que não haja reconhecimento da grande mídia ou do público geral, elas conseguem acessar espaços e lugares naturalmente, já que as mulheres do rap são mestres em criar tendência e movimentos que trazem grande significado à cultura. 

Do empreendedorismo feminino ao empoderamento, o rap defendido pelas minas se tornou uma rede de apoio para mulheres que, através das letras, retrata as vivências e dores individuais e coletivas, enviando uma poderosa mensagem de acolhimento de nós para nós mesmas. 

A sensibilidade feminina passada através de palavras firmes com rimas inigualáveis faz com que elas cheguem nesses espaços na base do talento e força.

MC Luanna acumula mais de 1 milhão de ouvintes no Spotify (Foto: Fernanda Opitacio)

Duquesa

Sou a atração que eles pagam menos / Mas quem é que dá sold out na festa?

Não é preciso fazer uma grande busca para observar que quem domina os grandes festivais e charts são os homens e, no Set AJC 2, Duquesa escancara isso. Mesmo enfrentando desafios, as artistas superam as expectativas, demonstrando talento, habilidade e uma enorme demanda de público em seus shows.

No entanto, são frequentemente encaixadas em papéis secundários ou subestimadas quando comparadas com os manos. De acordo com um estudo feito pelos pesquisadores Leonardo Morel e Vitor Gonzaga Dos Santos na Revista Observatório Itaú Cultural, a representatividade de mulheres no rap no Brasil era apenas 8% em 2022. 

Há também uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostra uma diminuição na diferença salarial entre homens e mulheres em cerca de 6%. Isso é um sinal positivo de progresso na igualdade de gênero. No entanto, é fundamental que esse mesmo progresso seja refletido e amplificado em todos os setores, incluindo a indústria da música, e que tenham o devido recorte racial.

Com um flow e métrica inigualáveis e com fortes indiretas aos artistas que usam playback e autotune e mesmo assim lotam casas, Duquesa conseguiu resumir como está a cena atual do rap.

Duquesa é da Boogie Naipe, produtora do Racionais Mc’s e Mano Brown (Foto: Reprodução)

LAI$ROSA 

Essa banca te incomoda / Porque vai te causar fim

As mulheres do rap são incansáveis. Negra Li e Sharylaine, por exemplo, são duas figuras importantes na cena do rap brasileiro, que contribuíram significativamente para pavimentar o caminho para a nova geração de artistas do gênero.

Negra Li foi uma das pioneiras a quebrar barreiras de gênero e a ganhar espaço em um ambiente predominantemente masculino, abrindo portas para outras mulheres no rap brasileiro.

Sharylaine, por sua vez, também conhecida como Sharylaine Dee, é uma rapper, cantora e compositora brasileira que ganhou destaque na cena underground. Sua música aborda temas como empoderamento feminino, questões sociais e experiências pessoais, conectando-se com uma geração mais jovem de ouvintes. 

Elas e muitas outras mulheres trouxeram uma abordagem autêntica e vulnerável ao rap brasileiro, contribuindo para diversificar a narrativa do gênero e ampliar sua relevância para um público mais amplo.

A frase de LAI$ROSA no Set AJC 2 revela um medo que pode existir do lado masculino da indústria, pois é de conhecimento de todos de que as mulheres dominam a arte do rap há muito tempo. Quem sabe a mesa vire e nós conseguimos ocupar todas as cadeiras de poder da cena musical?

LAI$ROSA tem 19 anos e já faz sucesso entre o público (Foto: Reprodução)

Última atualização em: 21 de maio de 2024 às 17:37

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