Segundo trabalho solo do cantor e compositor conta com a participação de Gilsons e produção musical de Marcus Preto
Pouco mais de quatro meses após o lançamento da primeira parte, entra nas plataformas digitais neste dia 13 de março, disponibilizada pela Som Livre, a outra metade de Se o Meu Peito Fosse o Mundo, aguardado segundo trabalho solo do cantor, compositor e violonista paulistano Jota.pê. São mais cinco faixas que chegam para se juntar às já lançadas e complementar, musical e poeticamente, toda a viagem, por vezes autobiográfica, narrada em música e letra pelo jovem artista. O álbum ganhará edição em LP em futuro próximo.
A nova leva de canções traz apenas repertório inédito e composto por Jota.pê solitariamente (Quem É Juão) ou assinado com os parceiros João Cavalcanti (Caminhos), Rafa Castro (O que Será de Nós Dois), Nina Oliveira (Banzo) e José Gil (Feito a Maré). José Gil, aliás, comparece também como intérprete em sua faixa e traz com ele João Gil e Fran Gil para um feat entre Jota.pê e os Gilsons. Faixa foco do disco, Feito a Maré chega também com videoclipe, disponibilizado no canal oficial do artista no YouTube.
Faixa a Faixa:
AS CANÇÕES DE ‘SE MEU PEITO FOSSE O MUNDO‘, por Jota.pê
1_ “Tá Aê” (Jota.pê/ Theodoro Nagô)
Na pesquisa de referências sonoras para o álbum, caí muitas vezes na obra de Mayra Andrade. Ela sempre foi uma grande influência. Por causa dela, tive vontade de trazer essa aura cabo-verdiana na percussão, no toque da guitarra e mesmo no tema desta canção. Na letra, meu parceiro Theodoro Nagô cita lugares que nós dois ainda não conhecemos, como Cabo Verde e Cuba, mas com os quais estamos conectados – seja por questões musicais, seja por vínculos ancestrais. São culturas tão presentes na nossa realidade, tão marcadas no nosso sangue e na maneira como raciocinamos a música e a vida, que parecem estar aqui, do nosso lado, o tempo todo. Mesmo que a gente nunca tenha estado lá.
2_ “Um, Dois, Três” (Jota.pê)
Essa canção existe desde 2015 e, sem nunca abandonar o samba, foi se transformando no decorrer dos anos até chegar à forma atual. A referência aqui é o trabalho do cantor inglês Tom Misch, um artista que amo muito. Trouxemos a faixa mais para esse clima de samba-rock, com um groove bem definido feito com três guitarras: a minha, a do Rodrigo Lemos e a do Chibatinha. Aqui, meu violão sai de cena e deixa o protagonismo para o baixo do Weslei Rodrigo, que guia toda a levada. Conseguimos trazer a faixa para o universo do baile charme, para o rolê de negão, um clima que a gente buscava muito. “Um, Dois, Três” ganhou um clipe.
3_ “Naise” (Nina Oliveira)
Eu já toco “Naise” em shows há um bom tempo. Até que a própria Nina Oliveira, uma artista que eu admiro muito, sugeriu que eu fizesse uma gravação oficial para o disco. Tenho uma história profunda com o forró, um gênero que me sustentou no início da carreira. Tudo começou quando alunos de uma escola de forró começaram a usar minhas músicas nas aulas. A partir daí, passei a fazer shows nas festas deles. E como se tratava de uma escola grande, com filiais em várias cidades, acabei viajando para me apresentar. No caminho inverso, a galera do forró passou a frequentar meus shows. Por tudo isso, fiquei com muita vontade de colocar “Naise” no disco. Fazendo toda a diferença, Xênia França aceitou o convite para dividir a faixa comigo. É o único dueto deste lado A.
4_ “A Ordem Natural das Coisas” (Damien Seth/ Emicida)
O trabalho do Emicida é uma das minhas maiores referências, no palco e fora dele. Foi por causa do álbum AmarElo que cheguei no Felipe Vassão para ser um dos produtores deste meu disco. Essa canção, especificamente, deixa expressa a importância dos pequenos acontecimentos, a beleza dos fatos corriqueiros e cotidianos, tudo o que merece ser valorizado. Quando pensei em chamar este álbum de “Se o Meu Peito Fosse o Mundo”, minha ideia era exatamente essa: se o meu peito fosse realmente o mundo, quais seriam as coisas realmente valiosas, importantes e prioritárias? As pequenas coisas, certamente. Gravei um vídeo cantando essa faixa logo que o AmarElo foi lançado e o Emicida viu. Nossa relação começou ali. E eu fiz questão de ter essa faixa defendida no meu álbum.
5_ “Ouro Marrom” (Jota.pê)
É a faixa mais importante deste álbum. Foi nela que consegui, pela primeira vez, desenvolver um texto que me agradasse sobre minha relação com o racismo, com ser negro. Eu nunca tive pressa de escrever sobre esse assunto porque precisava, de fato, ter algo a dizer que agregasse à discussão. Nesse sentido, fiz a letra como uma provocação a mim mesmo. Na questão musical, a provocação veio do Marcus Preto, que me pediu músicas lentas para o disco, pois queria explorar minha interpretação vocal. Escrevi a letra depois de ver mais uma notícia sobre racismo. Fiquei muito mal e, de madrugada, comecei a escrever: “no meu peito a mesma dor que afoga”. Pouco tempo depois, recebi uma mensagem da minha amiga Bruna Black, encantada com a beleza da filha dela. Ali, pensei que somos muito mais do que nossas mazelas, muito além da nossa dor. E fui levando a música para esse lugar de exaltação. Nós somos prósperos, nós somos maravilhosos e temos que ter riquezas, sim – em todos os sentidos possíveis.
6_ “Quem é Juão” (Jota.pê)
Nasceu de uma brincadeira. Uma amiga, Mariana Bezerra, me disse uma vez que, por eu ter essa voz e fazer músicas românticas, devia fazer muito sucesso com as menininhas. Achei engraçado o comentário, pois tocar violão nem sempre me ajudou com isso. Mas, dessa provocação, fiz uma música brincando com meus “insucessos”. Na sonoridade, misturamos elementos rítmicos do rap, meio Rum DMC, mas usando elementos brasileiros, como pandeiro. Gosto muito desse som pela letra descontraída e pelo arranjo, cheio de propostas sonoras com violino, pandeiro, bateria e violão.
9_ “Feito a Maré” (Jota.pê/ José Gil)
Foi a primeira que escrevi pensando no álbum e minha primeira parceria com o José Gil, dos Gilsons. Numa época em que alguns vídeos meus viralizaram, José me pediu pra mandar músicas pra ele. Um dia tomei coragem e mandei o verso e o refrão de ‘Feito a Maré’. Meses depois, nos encontramos em São Paulo, na casa da Manu e do Kike, os donos do Bona, uma casa de shows da cidade. E terminamos a música durante a madrugada. Tenho um carinho muito grande por ‘Feito a Maré’ porque ela foi a primeira canção que nasceu a partir dos meus estudos sobre a música e os ritmos de Cabo Verde. Sem o contato com a obra da Mayra Andrade, essa música não teria nascido.
8_ “O Que Será Nós Dois” (Jota.pê/ Rafa Castro)
Essa composição nasceu de uma experiência muito particular. Um casal de amigos meus pensava em terminar a relação e os dois, separadamente, vinham desabafar comigo sobre o assunto. Ser o confidente dos dois me deu um prisma diferente da relação. De como, excetuando violências e crimes, um relacionamento é um exercício de disposição, de entender e negociar desejos, vontades, medos e mudar o que for necessário. E também de não negociar o inegociável. Todo o mote de “O Que Será Nós Dois” veio dessa experiência.
9_ “Caminhos” (Jota.pê/ João Cavalcanti)
Fala sobre o exercício de viver e suas possibilidades. Quantas histórias eu vou ter coragem de vivenciar? Quantos medos vou ter força pra enfrentar? Quantos erros? Quantas mentiras? Quantas coisas dão certo agora justamente porque outras deram errado antes? E foi muito especial ter feito essa composição, parceria com João Cavalcanti, que não só entendeu perfeitamente a ideia original como agregou muitíssimo ao texto e às partes rítmica e melódica. Eu realmente acho o João um artista genial.
10_ “Banzo” (Jota.pê/ Nina Oliveira)
Uma das músicas que mais me emocionam nesse álbum. Compus com a Nina Oliveira (autora de “Naíse”, lançada no lado A de Se Meu Peito Fosse o Mundo) há quase 9 anos. Naquela época, tínhamos muitas dúvidas sobre até onde conseguiríamos chegar nas nossas vidas, nas nossas carreiras. Quais dos nossos sonhos se realizariam? A gente duvidava até que conseguiria pagar nossas próprias contas algum dia. Lembrar daquele contexto e olhar pras nossas vidas agora, com discos sendo lançados, sonhos se realizando e até novos sonhos projetos nascendo, é bonito demais.