Eliana Pittman celebra seus 80 anos em 2025 com uma vitalidade artística impressionante. A cantora, conhecida por sua versatilidade e trajetória internacional, está mergulhada em novos projetos, incluindo sua aguardada biografia, um álbum de jazz e, em destaque, um trabalho inteiramente dedicado ao repertório de Jorge Aragão, mestre do samba e referência da geração Fundo de Quintal. Intitulado “Nem lágrima nem dor”, o novo trabalho chegou em todas as plataformas digitais pela gravadora Nova Estação e em CD pela Companhia de Discos do Brasil.
Quando Eliana Pittman decide abraçar o repertório de Jorge Aragão, o que surge não é um disco de samba no sentido estrito. Sob a produção cuidadosa e criativa de Rodrigo Campos e metais de Thiago França, “Nem lágrima, nem dor” se torna uma releitura sofisticada e ousada, onde a voz vibrante e camaleônica de Eliana encontra arranjos que reimaginam clássicos com frescor e emoção. É Jorge Aragão, mas é também Eliana Pittman, um encontro de titãs, e Rodrigo Campos traduz essa conexão com um toque que é ao mesmo tempo íntimo e expansivo.

A jornada começa com “Lucidez” que ganha um arranjo pontuado por metais elegantes, enquanto Eliana transforma o lamento da canção em algo quase cinematográfico. Seguindo essa atmosfera, em “Eu e Você Sempre”, a simplicidade do violão aliada ao sax cria um ambiente íntimo e envolvente, destacando a doçura de sua voz.
“Novo Endereço” é conduzida por percussões e arranjos delicados, apresentando-se como uma confissão introspectiva que traduz intimidade e universalidade. Essa intensidade continua em “Loucuras de Uma Paixão”, onde o arranjo cinematográfico, com destaque para o sax tenor, amplifica o drama da música, revelando suspiros apaixonados em cada nota.
Em “Tendência”, Rodrigo Campos imprime uma leveza à melodia, ressignificando o samba com delicadeza, enquanto a interpretação de Eliana ressalta a melancolia subjacente. Já “Minta Meu Sonho” explora uma estética contemporânea, onde sintetizadores e batidas eletrônicas criam um contraste intrigante com a entrega vocal de Eliana, que soa moderna e autêntica.
“Além da Razão” traz uma atmosfera luminosa ao introduzir synth bass e guitarra que acompanham a voz precisa e emotiva de Eliana. Em “Do Fundo do Nosso Quintal”, a nostalgia e o calor que emana das recordações de toda roda de samba transformam a canção em uma celebração carismática e envolvente marcada pelo cavaquinho e a voz de Rodrigo Campos no coro.
Por outro lado, “Papel de Pão” é marcada por densidade e programações sutis que dialogam com uma linha de baixo marcante, criando uma narrativa quase falada que reflete a força da canção. Com essa faixa, Eliana imprime todo o peso de sua interpretação, encerrando a obra com uma força dramática que reverbera além da última nota.
O álbum, longe de ser uma simples homenagem, transforma cada faixa em uma nova experiência, onde a genialidade de Jorge Aragão encontra a criatividade de Rodrigo Campos e a alma de Eliana Pittman.