A longa tradição brasileira de cantar o mar e todo seu universo litorâneo ganha um novo recorte a partir de ‘Calado’, quinto álbum autoral do cantor e compositor mineiro Marcos Almeida. Com 12 faixas – sendo 9 canções inéditas e três trilhas originais –, o disco posiciona seu olhar para uma parte específica das embarcações, quase sempre ignorada por viajantes ou mesmo pela tripulação a bordo.
Calado é o nome da estrutura submersa dos navios – a distância entre a quilha e a linha superficial da água, cujo espaço geralmente guarda o maquinário. “A música brasileira fala tanto do mar, das pedras, do oceano, a partir de figuras como Dorival Caymmi, Nação Zumbi e mais recentemente BaianaSystem, entre tantos outros. Eu decidi voltar meu olhar justamente para uma parte estrutural das embarcações, que organizam nosso deslocamento e garantem o pleno equilíbrio da travessia”, diz Almeida.
A escolha do nome brinca também com a ambivalência das palavras. Além da armação
náutica, ‘Calado’ representa um estado de mutismo, ou de silêncio provocado em busca da
profunda reflexão. “Estamos vivendo um momento tão polarizado que todo mundo quer saber se você está a estibordo (esquerda) ou a bombordo (direita). Mas eu quero saber o que silenciosamente nos
sustenta. O que está embaixo de toda essa estrutura que nos guia”, brinca o artista, usando termos comuns entre os navegadores.
O novo disco de Marcos Almeida é embalado por questionamentos filosóficos e uma forte presença da espiritualidade cristã. Ainda assim, não abandona o diálogo com o público, mantendo refrões melódicos e uma essência genuinamente pop. Prova disso é que, das nove canções de ‘Calado’, três já foram lançadas como single ano passado, com ampla aceitação do público. Foram elas: ‘Porão’ (em junho), ‘Procura’ (setembro) e ‘Leve’.