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Dono de um dos melhores álbuns de rap do ano, Yago OProprio fala sobre sua trajetória, uso de autotune no trap e a poesia no boombap

O boombap do paulistano nascido na Cohab II, Zona Leste de São Paulo, une riqueza melódica com um lirismo e forma de contar história muito peculiares
Dono de um dos melhores álbuns de rap do ano, Yago O Próprio fala sobre sua trajetória, uso de autotune no trap e a poesia no boombap

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Há um mês, Yago Carvalho, batizado artisticamente de Yago OProprio, lançava seu primeiro álbum, uma coleção de crônicas musicais viciantes que pegam o ouvinte logo na primeira audição. No entanto, ainda que trabalhando só com singles (são mais de 20 singles como artista solo ou como convidado), Yago conseguiu uma base fiel de ouvintes que culminou em milhões de plays de faixas como “Imprevisto”, “Bicho Solto” e “Helipa”.

O boombap do paulistano nascido na Cohab II, Zona Leste de São Paulo, une riqueza melódica com um lirismo e forma de contar histórias muito peculiares, que diferencia a música de Yago OProprio do que vem sendo feito na cena hip hop brasileira atual.

“Quando comecei a fazer música, na real, eu ia fazer funk. Aí tinha os canais de funk. A gente lançava e as músicas eram muito bem recebidas. Era uma chance de lançar uma agulha, estourar. Só que a vida foi fazendo os caminhos e fui indo para o rap, trabalhando os singles, seguindo essa perspectiva. Então lancei “Amor Incendiário”, investi no lançamento e teve uma reverberação boa. Desde então, sigo na lida com o rap”.

Compartilhado até pela saudosa Marília Mendonça, Yago captura ouvidos com suas crônicas pessoais universais. Crônicas essas que deram origem a um curta-metragem lançado no Youtube junto ao álbum. O filme de 10 minutos une três faixas do álbum em cenas vividas na cidade de São Paulo. Com produção da Stink, produtora referência no mercado publicitário, e direção de Ênio Cesar, Larissa Zaidan e Luis Carone, a peça audiovisual narra as histórias apresentadas por Yago nas letras de “La Noche”, “Inofensiva” e “Jejum”. As histórias conversam entre si em uma linha narrativa única no filme, mas também funcionam de forma separada.

O estilo de composição de Yago dá prioridade ao beat primeiro, para então vir a caneta em cima, embora ele componha de outras formas eventualmente. “Existem várias formas de fazer música. Você pode ir pela melodia. Você pode encontrar uma ótima melodia e, depois, começar a estruturar essa melodia com palavras. Eu prefiro fazer assim. Então eu sempre encontro a música certa antes de fazer a letra”, explica.

Com o fenômeno do trap rendendo milhões de plays nas plataformas digitais, seria uma guinada fácil para Yago ao lançar um primeiro disco. Ainda que seu público inicial rejeitasse, ele conseguiria repercussão suficiente para angariar a atenção dos fãs do gênero, mas avesso ao óbvio, ele seguiu no tradicional boombap. O cantor diz não ser muito chegado ao trap, o que é um ganho para quem prefere a voz característica do cantor sem alterações eletrônicas como é comum nesse subgênero do rap. “Às vezes o autotune descaracteriza a voz num ponto que se perde até um pouco do sentimento. Isso é uma primeira impressão pessoal sobre o recurso”, reflete Yago.

Apesar das convicções sobre a forma de compor, Yago revela que logo lançará um samba e que não descarta de todo um dia fazer algo próximo à sonoridade trap. Para ele, “é importante trafegar por todos os lugares sem se fechar”.

 Dono de um dos melhores álbuns de rap do ano, Yago O Próprio fala sobre sua trajetória, uso de autotune no trap e a poesia no boombap
Yago durante filmagem do clipe de “Inofensiva | Foto: Breno Rotatori

Dentro da filosofia musical do paulistano há questionamentos religiosos como na faixa “Catedrais”. Terceira faixa do álbum, a canção explora a incredulidade com o cristianismo enquanto tende a reverenciar alternativas como religiões afro: “já não acredito em Jesus, nem Satanás”, diz um dos versos.

“Era tipo um ceticismo, mas também um sincretismo religioso, poético. Mas assim, à minha maneira, como eu vejo. Tenho minhas crenças, acredito em energia, às vezes eu penso que Deus mora no sol. Se você for olhar, é o calor e a luz e a vida, né? O que nos mantém vivos. E aí essa parada dessa vitalidade, dessa energia que mantém todas as coisas vivas. Eu sinto que tem um monte de camada.”

Apesar do tamanho que conquistou, Yago não barganhou feats para o disco, exceto o contumaz parceiro Patricio Sid. Busquei esse lugar mais individual de composição, todas as letras, tudo. O Patricio vem no instrumental de todas as faixas e também é responsável por trazer essa sensação de singularidade de unidade do álbum, dessa estética que ele é proposto”, conta.

“Yago OProprio” soa como um desses clássicos instantâneos que tende a crescer com as audições. Lógico, o artista prefere se referir ao próprio trabalho com modéstia, mas as reações dos fãs nas redes sociais têm sido extremamente positivas.

Quando perguntado se ele sentia que o álbum seria tão bem aceito, Yago conta sobre como “Imprevisto”, seu single de maior sucesso até aqui, foi entendido por ele. “Eu ouvi o bagulho e aí eu passava o dia, passava outros dias. Eu ouvi a música e falava ‘Não é possível’, porque parece que tem um negócio. E com esse disco, eu escuto e dá vontade de escutar mais. Não consigo selecionar uma faixa favorita. Ele carrega uma mensagem completa do início ao fim. E trafega por um lugar muito interessante”.

Faixa a Faixa

“La Noche”

Rap que dá início ao álbum e traz situações do cotidiano vividas por Yago ao longo de uma noite, mas que são comuns a todos. A música aborda uma autoafirmação do artista, presente nos versos “sou o silêncio antes da troca de assunto”, “a voz que busca paz de todos que ficaram mudos”.

“Inofensiva”

Vem como resposta à música que abre o álbum, “La Noche”, construindo uma linha narrativa sobre a relação com o trabalho, as responsabilidades e suas frustrações.

“Catedrais”

Terceira faixa do álbum, fala sobre religião. Narra o lado cético do artista ao dizer “já não acredito em Jesus, nem Satanás”. Além disso, traz um sincretismo com “Canto de Ossanha”, um dos clássicos da música popular brasileira.

“Fora do Tom”

É a primeira love song do álbum e fala sobre o ato de Yago se encontrar. Aborda inseguranças, pensamentos e o amor como uma perspectiva de melhora.

“Melhor que Ontem”

A música foi produzida para levar o ouvinte a acessar um estado de tristeza. É um beat mais melancólico que, somado às ideias e rimas, busca construir uma perspectiva de melhora.

“Enigma”

Sexta faixa do álbum, fala sobre o amor em um lugar do não saber, como uma incógnita. É uma love song que traz perspectivas de histórias de amor vividas pelo próprio Yago e reflexos de como o artista se relaciona com este sentimento.

“Modus Operandi”

A faixa fala sobre amor tóxico e reflete padrões que o próprio Yago descobriu dentro de suas relações. Para isso, o artista buscou trazer a toxicidade na construção da faixa, que não possui refrão, traz repetições de palavras e um jogo de melodias com o intuito de fazer alusão a um sentimento de angústia.

“Papoulas”

Produzida em 2022, ficou na gaveta do artista por muito tempo, até que por incentivo de seu empresário entrou no álbum e explora mais uma vez sua vertente romântica.

“Jejum”

É uma das músicas favoritas do álbum para o cantor e traz os tempos de excesso de informação constante, aborda sobre a bipolaridade das opiniões. A fome, uma das dores do mundo, foi o mote central para a concepção da faixa.

“Linha Azul”

Para encerrar o álbum, a música mais antiga do artista veio para o projeto como um pedido do pai de Yago. Apesar de ser a mais antiga, carrega a bagagem de vida de Yago em um lugar genuíno, com traços de cantiga de criança.

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Última atualização em: 23 de julho de 2024 às 1:37

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