O amor é um espectro e não algo único e fixo. Partindo dessa premissa, a Núclea de PesquiZa Tranzborde criou o espetáculo de dança Amores Q_______, com estreia marcada para o dia 29 de janeiro de 2025, às 20h, (com apresentações até 2 de fevereiro), na Rua Treze de Maio, 240, em sessões gratuitas.
Com direção de Oru Florydo, o trabalho é uma das ações do projeto “TRANZ-FORMAR QUEM SE MOVE – por uma dança não transfóbica”, contemplado da 35ª edição do Fomento à Dança na Cidade de São Paulo. “É a primeira vez que esse edital premia uma iniciativa que tem uma equipe 90% trans”, comemora.
Foram sete anos de pesquisa, de 2018 até essa estreia em 2025. “Eu, que não tenho experiências heterossexuais, queria entender por que sempre acabamos nos deparando com as mesmas questões quando o assunto é o amor. Será que não poderia existir outra forma de amar que não fosse atrelada a uma lógica de reproduções estruturais?”, reflete Oru.
Por esse motivo, inclusive, existe essa lacuna no nome do espetáculo, Amores Q_______. A ideia do grupo é estimular a plateia a preencher esse espaço vazio com as suas experiências.
Para a Núclea, a sociedade incentiva as pessoas a perseguirem o amor (Bell Hooks), mas não existe uma definição mais concreta sobre esse sentimento. “Na verdade, nós não temos uma educação emocional – relacional. Vamos apenas vivendo, sentindo e tentando nos encaixar nessas referências que vemos no cinema, na novela, na música”, defende Oru.
Sem a pretensão de encontrar respostas, o grupo se debruçou sobre as várias facetas do amor. Nesse mergulho, noções como abandono, desejo, tesão, sexualidade, ciúmes, carinho, casamento e namoro foram exploradas. Em cena estão Carole Sousa, Edan Mar, Gabs Ambròzia, Laian Lara, Marcéu Maria, rAFA CURA, Mirê Pi e Nu Abe.
Sobre a encenação
Amores Q_______ se divide em três movimentos. Com uma trilha sonora que passa tanto pelo experimentalismo asiático e quanto pela música eletrônica brasileira, o espetáculo tem um lado visual muito importante. A plateia está acomodada diretamente no palco e a cenógrafa Juliana Augusta utiliza uma caixa branca ao invés de utilizar a preta tradicional do teatro.
No começo, os intérpretes dançam as suas individualidades. São oito performers em cena, todas pessoas trans (travestis, transmasculinos e não binarios). É o momento em que essas pessoas retratam a batalha por manter-se vivas em uma sociedade neoliberal, focada exclusivamente no trabalho e no acúmulo de bens materiais.
Para expressar isso, simulam uma troca de peles por meio de roupas que vão se acumulando naqueles corpos. De repente, enquanto esse processo de luta pela sobrevivência ocorre, aparece um casal cinematográfico dançando uma valsa e atropelando todo mundo.
Depois disso, o foco da coreografia está em um aglomerado de experiências comuns da adolescência, um período com poucos filtros e quase sem julgamentos. Conceitos como voyerismo e sedução ganham destaque nessa hora.
Dando sequência, a Núclea de PesquiZa Tranzborde investiga os espectros do amor romântico. “Cada performer fez um levantamento sobre essa temática e, a partir das suas descobertas e das suas próprias histórias, juntaram-se em duplas para criar coreografias. Queríamos reunir pessoas com ideias opostas, por isso juntamos uma pessoa que sonha em casar-se com outra que não quer, por exemplo. Assim conseguimos acessar sentimentos como abandono e solidão”, detalha Oru.
O objetivo dessa parte do espetáculo é mostrar para o público as inúmeras tentativas de viver esse amor idealizado – até o ponto de chegar em vivências bem comuns da comunidade trans, como as tentativas e fracassos das relações não monogâmicas. Esse primeiro movimento termina no sofrimento, na destruição daquilo que se entende por amor romântico.
O segundo movimento está na esfera do sonho. De acordo com Oru, aqueles seres tentam construir outras formas de relações. A grande questão é problematizar a nossa noção de amor: será que ela é válida para todo mundo? Será que ela fará sentido para sempre?
“Há uma luta contra a hegemonia, contra o estado. Queremos romper com tudo, ate mesmo questionar o especismo. Nesse momento, estamos partindo para um saber originário, para um outro modo de vida mesmo. Uma luta contra o tempo neoliberal. ”, explica Oru.
Por fim, o terceiro movimento simboliza a grande ruptura. “Voltamos a ser bicho e terra. Não quero apresentar nenhuma resposta sobre o que é o amor. Para mim, é mais importante sairmos desse trono humano e retomarmos aos saberes que o próprio bioma nos oferece”, acrescenta.
SERVIÇO
Amores Q _______
Data: 29 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025
Quarta a sábado, às 20h e domingo, às 18h
Classificação: 14 anos Duração: 70min
Local: Rua Treze de Maio, 240
Ingresso: grátis | Retirada na bilheteria com 1 hora de antecedência
Acessibilidade: Todas as apresentações contarão com audiodescrição