A Morada Jaraguá Okênozune, um espaço cultural localizado no centro histórico do Jaraguá, surgiu em 2022 para ser um refúgio da comunidade do bairro, sobretudo a preta e periférica. Rodeado por imóveis centenários, patrimônios tombados, remanescentes de floresta atlântica, a presença dos povos Guarani e registro das primeiras explorações de ouro no Brasil e este lugar sagrado se consolida como um ponto de encontro para a preservação ambiental, a memória, a histórica e a relevância cultural.
O espaço, que possui extensa área verde com árvores frutíferas, três salas multiuso, cozinha e jardim, é um verdadeiro tesouro para a comunidade. Seus propósitos vão além da mera ocupação de um lugar físico, estendendo-se à valorização da cultura dos povos pretos que passaram por ali, para que possam ser contadas e celebradas. Nesse sentido, a Morada Jaraguá Okênozune tem se dedicado a promover uma diversidade de atividades que ressaltam a cultura e arte afro diaspórica e africana e suas contribuições para a sociedade.
No mês de novembro de 2024, o espaço foi palco do primeiro Festival Okênozune onde mais de 90 artistas, coletivos e grupos marcaram presença.
Entre as atividades já realizadas, destacam-se sessões de filmes, que exploraram produções cinematográficas relevantes para a comunidade afro-brasileira e africana, exposições, estudos sobre o matriarcado africano, revelando a importância dessa organização social na construção da história e na manutenção da cultura ancestral, oficina de blues, e ainda uma trilha pelas Águas e caminhada histórica no Jaraguá que neste mesmo ano integrou o roteiro no Guia Negro, uma experiência imersiva pelo bairro e pela exuberante floresta, rios e nascentes que rodeiam o espaço cultural.
Segundo Suêrda Deboa, gestora cultural encarregada pela administração do local, o projeto desempenha um papel de oferecer cultura, lazer e valorizar o bairro em que cresceu. Para ela, criar um espaço cultural independente no Jaraguá está contribuindo para a revisão da narrativa histórica a partir da perspectiva das pessoas que sofreram opressão, uma vez que foi onde se iniciou as explorações dos invasores portugueses, a escravização e a morte de povos indígenas e pessoas vindas do continente africano. “Visamos também valorizar e preservar os remanescentes das florestas atlânticas, rios e nascentes na região e fortalecer o senso de pertencimento das pessoas que habitam essa área, uma vez que cada aspecto do local possui um propósito”, afirma.
De acordo com o Mapa da Desigualdade 47% das pessoas do bairro são autodeclaradas pessoas negras. Suêrda completa que na região em que estão localizados, as pessoas não têm a compreensão do que constitui um espaço cultural. “A apreciação de exposições em um local que ainda é amplamente considerado como um bairro residencial é algo novo. As dificuldades, portanto, se apresentam em encontrar um local onde possam acessar livros para leitura e desfrutar do sol, do canto dos pássaros e da contemplação da natureza”, explica a coordenadora.
Além de, oferecer uma série de novas atividades, que proporcionam momentos de aprendizado, valorização e celebração. Entre as atividades programadas, estão a oficina de blues (guitarra e violão) toda sexta-feira, trilha pelas águas do Jaraguá, teatro, caminhada histórica no Jaraguá, roda de conversa sobre territórios, memórias e identidades, rebolado, dança de salão, capoeira angola, dança afro, yoga kemética, clube de leitura, e percussão.
Essas ações têm como objetivo fortalecer os laços comunitários, valorizar as raízes culturais e oferecer espaços inclusivos para trocas de saberes e experiências.