Peça acontece nas unidades do SESC RJ e tem apresentações agendadas de março à julho
A Trupe Investigativa Arroto Cênico de Nova Iguaçu apresenta a peça “Candelária” pelo Edital de Cultura SESC RJ PULSAR 2023/24, junto com produções de vários estados brasileiros. Com direção de Madson Vilela e dramaturgia de Karla Muniz Ribeiro é um espetáculo adulto que perpassa pela temática do racismo estrutural no Brasil e é resultado de uma pesquisa cênica sobre a Chacina da Candelária.
O Grupo que nos últimos anos vem se firmando como uma das companhias de maior atividade da região, fará uma circulação durante o período de março a julho por 08 unidades do SESC RJ, percorrendo municípios localizados no interior do estado do Rio de Janeiro, como Campos, Teresópolis, Nova Friburgo, Valença e Barra Mansa. O circuito começou no último dia 15 de março (sexta-feira), no SESC Campos, em Campos dos Goytacazes – RJ.
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É uma peça manifesto que propõe cenicamente uma discussão a respeito da política de embranquecimento social que perdura até hoje no país, e rememora também outros genocídios da população negra. O roteiro transita por três recortes dramatúrgicos referentes a momentos históricos do Brasil. O que esses três momentos têm em comum? Esse é o mote dramático do projeto.
No elenco Jonathan Floriano, Karla Muniz Ribeiro, Madson Vilela, Marlon Souza e Simone Cerqueira, artistas negros e periféricos, fundamentam os questionamentos propostos em cena. A montagem segue os moldes do Teatro Contemporâneo com uma encenação fragmentada, que utiliza recursos cênicos através de novas narrativas que potencializam a projeto e o movimento teatral negro.
Responsável pela direção deste trabalho, Madson Vilela conta um pouco mais sobre o espetáculo e como foi o processo de preparação para a construção do espetáculo.
Confira a entrevista:
O espetáculo “Candelária” já estreou. Conta um pouco sobre este espetáculo e como vocês trazem essa história?
Candelária é um grito que, na verdade, já vem sendo dado há anos, mas ainda não foi ouvido (ou fingem não ouvir). Afinal, não é de hoje que se fala sobre o Genocídio da população Preta no Brasil, sobre racismo e sobre a invasão do Brasil, feira pelos europeus.
Esse texto é o desejo de uma dramaturgia negra da Baixada Fluminense, que para muitos é considerada a periferia da periferia, ser ouvida e mais: falar por ela e por todos aqueles que não puderam o fazer.
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Como tem sido dirigir este trabalho e o elenco?
Essa foi minha primeira direção, estando totalmente, e foi muito desafiadora. Mas ao mesmo tempo, quando o medo pelo novo aparecia, eu me dava conta da grandiosidade dos artistas que tenho compondo essa ficha técnica. Em especial meu elenco, que é de uma potência e talento sem tamanho. Marlon Souza (que já havia sido meu aluno de teatro), Johnata Silva ( que começou a estudar comigo e também já foi meu aluno), Simone Cerqueira (que foi participante de uma oficina que ministrei e logo notei seu talento e quis tê-la próxima) e Karla Muniz Ribeiro (Dramaturga do espetáculo, que começou na sala de ensaio apenas como observadora, mas logo que a vi em um exercício com os outros atores sabia que ela devia ingressar também no elenco). Quatro artistas negros cheios de vivência e desejo de falar, de fazer e de ser ouvido. E é essa a minha maior escolha enquanto diretor: pôr esses atores e atrizes no foco da cena em sua plenitude falando e sendo ouvidos.
Como foi o processo de colaboração com a dramaturga Karla Muniz Ribeiro para trazer à vida a visão e as mensagens da peça?
Minha parceria com a Karlinha foi imediata. Nós conversamos muito. Ela fez encontros super importantes para explicar a equipe toda sua pesquisa e mostrar documentos e histórias que a levaram a escrever esse texto. E a partir dos encontros novas possibilidades foram surgindo. Sempre que algo surgia em sala de ensaio, eu solicitava a criação de alguma cena e ela prontamente atendia. Karla tem uma sensibilidade e uma escrita muito única. A cena do “Congresso”, que acontece no meio do espetáculo, foi uma cena escrita antes do início do processo, mas que através dos encontros e ensaios foi sofrendo modificações. A ideia já estava ali, mas os atores chegaram para ajudar a história a ser escrita. Ela confiou muito no elenco e em mim. O texto que ela trouxe tinha uma formatação, eu propus alterar e ela aceitou. Ela escrevia rubricas que eu solicitei usar, ela aceitou. Eu propus que ela estivesse em cena para ajudar a contar essa história e ela aceitou. Foi um jogo muito rico de confiança e reciprocidade.
Quais são suas esperanças e expectativas para o impacto contínuo da peça, tanto na comunidade teatral quanto na sociedade em geral?
Que se atentem a olhar o outro. Que saibam o quanto nos tiraram e o quanto ainda nos tiram. O quanto nos ferem e nos machucam. Mas também que saibam que NÓS ESTAMOS VIVOS! E que nós vamos falar por todos aqueles que tiveram suas vozes silenciadas. Que saibam que enquanto um de nós estiver de pé, haverá luta e desejo de viver o bem viver.
E que a cena teatral, principalmente a oriunda do Centro/Zona Sul, entenda que há espaços para todos. E que nós produzimos trabalhos tão bons quanto os deles. Que os críticos, curadores, jurados de prêmios olhem para a Baixada. Que eles entrem no trem e cruzem o Rio de Janeiro com a certeza ABSOLUTA de que aqui eles encontrarão artistas primorosos e que têm muito a dizer. Que só precisam ser vistos.
Na sua visão, qual a importância dos apoios recebidos através dos editais de fomento à cultura para viabilizar a produção e realização de “Candelária”?
A descentralização é uma ferramenta PRIMORDIAL na manutenção do Teatro do Rio de Janeiro. É importantíssimo que o governo e os gestores entendam que nós também movimentamos esse mercado. É importante poder remunerar dignamente toda equipe de trabalho. E esses editais e fomentos nos permitem trabalhar de forma digna e prazerosa. Sem isso, jamais poderíamos chegar a todas as pessoas que estamos chegando. Sem essa conquista, a aprovação em editais de Fomento público e também do Sesc RJ, através do Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2023/24, jamais teríamos viajado para outros municípios do estado do Rio de Janeiro para falar e discutir arte representando a Baixada Fluminense. Que possamos dar outros passos juntos.
Serviço:
Datas e informações das apresentações
15/03/2024 (sexta-feira) às 19h – SESC CAMPOS
Av. Alberto Torres, 397 – Centro, Campos dos Goytacazes – RJ, 28035-581
23/03/2024 (sábado) às 19h30 – SESC TERESÓPOLIS
Av. Delfim Moreira, 749 – Várzea, Teresópolis – RJ, 25953-237
23/05/2024 (quinta-feira) às 19h – SESC BARRA MANSA
Av. Tenente José Eduardo, 560 – Ano Bom, Barra Mansa – RJ, 27320-430
25/05/2024 (sábado) às 19h – SESC SÃO GONÇALO
Av. Pres. Kennedy, 755 – Estrela do Norte, São Gonçalo – RJ, 24440-490
31/05/2024 (sexta-feira) às 19h – SESC NITERÓI
Rua Padre Anchieta, 56 – São Domingos, Niterói – RJ, 24210-050
01/06/2024 (sábado) às 19h – SESC NOVA FRIBURGO
Av. Pres. Costa e Silva, 231, Centro, Nova Friburgo – RJ, 28630-000
21/06/2024 (sexta-feira) às 20h – TEATRO SESC ROSINHA DE VALENÇA
Av. Professora Silvina Borges Graciosa, 44, Valença – RJ, 27600-000
19/07/2024 (sexta-feira) a definir – SESC RAMOS
Rua Teixeira Franco, 38 – Ramos, Rio de Janeiro – RJ, 21060-130
Ingressos: R$ 10,00 (inteira), R$ 5,00 (meia-entrada) e gratuito (credencial plena Sesc e público PCG). Teatro Sesc Rosinha de Valença: gratuito