Após interpretar Martin Luther King Jr. no teatro, Rodrigo França retorna cinco anos depois à ribalta no mesmo teatro e em novo papel de peso. O monólogo “Eu sou um Hamlet” estreia dia 13 de junho, às 19h, no Teatro Firjan SESI Centro (RJ), sob direção de Fernando Philbert e com França na pele do clássico personagem conflituoso de William Shakespeare. Se valendo da tradução realizada por Aderbal Freire-Filho, Wagner Moura e Barbara Harrington para o texto do bardo, a adaptação foi escrita por Jonathan Raymundo, Philbert e França – os dois últimos retomando a parceria iniciada no espetáculo “Contos Negreiros”.
Utilizando as falas de Hamlet, a montagem coloca um espelho diante do mundo e reflete este tempo violento e pleno de segregações. Assim, nos evoca questionamentos acerca da sociedade de hoje, das relações humanas e da sua própria condição de humanidade enquanto homem negro no Brasil em sua jornada de autoconhecimento. Uma das primeiras dramaturgias do ocidente que busca refletir a humanidade, a peça amplia os seus dilemas a partir de um ator negro em sua encenação. A proposta é trazer essa consciência da realidade ao personagem. Ser ou não ser? Estar consciente ou não?
Lançando luz ao mito da democracia racial no Brasil – ou no reino da Dinamarca – esse Hamlet negro está diante no dilema de encontrar um discurso capaz de fazer repensar o hoje. Dilema este que levou o próprio Rodrigo França a se questionar se deveria ser ou não ser o emblemático personagem nesta montagem. Reforça perceber como essa tragédia colonial gerou uma espécie de homem negro esvaziado de si mesmo e tendo que piratear uma humanidade falsa, capenga, sempre sob suspeita, sempre no limite.
O que se passa no negro quando ele se torna consciente da sua condição? Da vulnerabilidade da sua segurança, nos jogos e sistemas que o coloca nas posições sociais mais degradantes, na justiça que, ao invés de cega, o enxerga sempre e mais. Como não surtar? Como não querer se matar ou matar? Como suportar a vida neste mundo? É preciso que os ancestrais voltem para iluminar um coração à beira do abismo, em meio a batalha com esta cultura de monstros.
“Pensamos em fazer um Hamlet com um recorte sobre o racismo e o pensamento sobre o homem comum diante desta sociedade que ameaça os direitos e liberdades. Apresentamos um Hamlet que observa a tensão do mundo e quer entender como se chegou a isto. ‘Hamlet’ é a peça que lança o ser humano como objeto de pensamento ao refletir sobre o que pode aguentar diante do mundo e suas engrenagens que esmagam uma pessoa negra, LGBT, pobre, que luta por justiça que deseja ir de encontro às regras sociais que privilegiam o poder. Em nossa montagem Rodrigo pensa e busca entender o que está em sua volta e, nesta batalha solitária, as vozes dos ancestrais lhe traz coragem para seguir e desafiar os augúrios”, antecipa Philbert.
Para o ator, que divide seu tempo ainda como diretor, debatedor, filósofo, autor e escritor, a população negra ainda está em busca de ser humanizada no Brasil. “Só é tratado como humano aqueles que tem dignidade em suas estruturas. Estamos longe de uma equidade para existir uma reparação de nossas mazelas causadas pela escravização. Contextualizando ‘Hamlet’, os nossos fantasmas (ancestrais) ainda clamam. O Hamlet de Shakespeare quer vingança; no Brasil, os diversos ‘Hamlets’ só querem justiça. Imagina se quisessem vingança? Não posso dispersar, pois os meninos estão morrendo lá fora. E temos muito o que fazer”, finaliza Rodrigo França.
SERVIÇO:
“EU SOU UM HAMLET” – @eusouumhamlet
Temporada: 13 de junho a 14 de julho
Dias da semana: Quinta-feira e Sexta-feira às 19h; Sábado e Domingo às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira) / R$ 20 (meia-entrada)
Link de vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/94347
Local: Teatro Firjan Sesi Centro
Endereço: Av. Graça Aranha, nº 1 – Centro
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 65 minutos