Mais uma adaptação de um jogo de videogame chega ao cinema e, embora o subgênero tenha melhorado sua safra nos últimos anos, de modo geral, é sempre um frio na espinha dos ruins quando anunciam que uma franquia de games caiu nas mãos de produtores de Hollywood. No caso de “Until Dawn”, se conseguiu um paradoxo: o filme basicamente é construído em dezenas de clichês do terror adolescente, como decisões questionáveis dos personagens em momentos de perigo, sustos previsíveis e enrolações desnecessárias, mas tudo isso,estranhamente conduzido de forma muito divertida. É basicamente o clássico filme ruim que dá a volta e fica bom. Um trash moderno.
Clover (Ella Rubin) e seus amigos encontram uma cidade abandonada, chamada de Vale Glore, escondida por uma misteriosa chuva. Em busca da irmã, Melanie, desaparecida um ano antes, ela e os outros jovens terão de lidar com uma ou mais madrugadas de terror.
A trama se prende pouco ao jogo original, que por motivos óbvios podia se valer dos recursos interativos como atrativo. Mas isso não depõe contra o filme. O que precisava ser adaptado permaneceu, como jovens presos em um ciclo temporal em que cada escolha pode ser fatal, no estilo “efeito borboleta”, mas com um número limitado de “vidas”, os personagens precisam sobreviver à madrugada — exatamente como no jogo.

David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam, Annabelle 2) entendeu que com um roteiro assim, ele não subverteria as expectativas em cima do terror sobrenatural, slasher ou gore, então abraçou tudo com o único objetivo de fazer o básico bem feito e oferecer diversão descerebrada e descompromissada de maneira competente. Para isso, ele conta com um elenco sólido de “adolescentes de 30 anos”, que parecem verdadeiramente apavorados e que equilibram bem as decisões estapafúrdias comuns nesse tipo de filme com ações surpreendentemente inteligentes e lógicas, o que faz com que não torçamos para serem trucidados nos primeiros 20 minutos de projeção.
Peter Stormare (o Diabo de Constantine) sempre é bem-vindo em qualquer filme e aqui ele é um dos elos que garantem o fan service aos fãs do jogo, embora pudesse ser melhor utilizado e parece mais com uma exigência dos estúdios do que uma necessidade narrativa.
Não há tentativa de construir personalidades complexas para os protagonistas, mas o carisma dos atores e a rápida instalação da premissa de repetição no tempo e mortes horrendas faz com que haja investimento emocional na preocupação com seus destinos.
Max (Michael Cimino), o interesse amoroso de Clover, é um magrelo que reage dando cadeiradas, socos e chutando bonecos de pano assustadores para longe, enquanto Abe (Belmont Cameli), alto e atlético, prefere dar no pé e tentar chamar ajuda bem longe dali. Ambos têm atitudes mais críveis do que costumamos ver no gênero.
A explicação dos eventos sobrenaturais que prendem a galera no local é bem qualquer coisa e com zero impacto psicológico, compensado nas mortes violentas seguidas da deterioração da saúde física dos jovens a cada vez que a madrugada recomeça.
“Until Dawn” (2025) é uma experiência trash bem divertida por se manter longe de grandes pretensões. Não promete nada e não entrega nada, mesmo, mas passa longe de ser modorrento. Há uma atmosfera satisfatória de tensão quando necessário e até o humor funciona, mesmo que involuntariamente. Previsível, meio tosco e muito divertido.