Publicidade

“Mickey 17” se segura no talento de Robert Pattinson e na boa mão de Bong Joon-ho, mas falha em aprofundar sua sátira política

Bong Joon-ho sabe lidar bem tanto com distopias (“Expresso do Amanhã”) como com a realidade crua (“Parasita”) , ambas obras que acertam em suas críticas ao sistema capitalista que mói seus cidadãos todos os dias num processo sem fim de enriquecimento de poucos em cima da exploração infinda de muitos. 

Publicidade

 Bong Joon-ho sabe lidar bem tanto com distopias (“Expresso do Amanhã”) como com a realidade crua (“Parasita”). Ambas as obras acertam em suas críticas ao sistema capitalista que mói seus cidadãos todos os dias num processo sem fim de enriquecimento de poucos em cima da exploração infinda de muitos. 

Pela primeira vez no comando de um filme de orçamento gigante ( com um orçamento de US$ 118 milhões e gastos adicionais de US$ 80 milhões em marketing), o diretor sul-coreano tinha a tarefa de adaptar o romance “Mickey7”, de Edward Ashton. Em “Mickey 17”, Mickey Barnes (Robert Pattinson) é o que se chama na casta de refugiados da Terra de “descartável”, humano que tem como função ser cobaia em uma missão de colonização no planeta Niflheim, cuja missão é assumir tarefas letais, sendo clonado após cada morte, mas sem perder as memórias do original.

A direção de Bong Joon-ho segue  seu estilo característico de misturar humor e crítica social, mas aqui ele abandona toda sutileza. O texto expositivo e as caricaturas dos ricos farão qualquer espectador entender logo de cara que o dedo está apontado para quem defende a exploração trabalhista. Claro, uma mensagem direta não é um defeito, mas talvez um enredo com mais delicadeza e menos exposição enriquecesse mais a trama.

Bong Joon-ho sabe lidar bem tanto com distopias (“Expresso do Amanhã”) como com a realidade crua (“Parasita”) , ambas obras que acertam em suas críticas ao sistema capitalista que mói seus cidadãos todos os dias num processo sem fim de enriquecimento de poucos em cima da exploração infinda de muitos. 

A busca por identidade é a abordagem mais bacana do longa e isso com o acréscimo precioso de uma performance de Pattinson que entrega as nuances necessárias para diferenciar cada nova versão que nasce após a clonagem de seu personagem. O ator, que aparece duplicado na tela no papel de Mickey 17 e Mickey 18, parece se divertir entre encarnar um submisso apaixonado e um sacana brigão que não se furta em enfrentar a arrogância cafona dos donos da colônia.

Os efeitos especiais são ótimos, com a cenografia do planeta gelado Niflheim sendo convincente, assim como a ambientação dentro da nave, escapando de parecer apenas uma sequência de corredores iguais.

Mark Ruffalo e Toni Collette formam o abjeto e divertido casal Kenneth Marshall e Ylfa, facínoras que vivem na mordomia enquanto exploram a população da nave. É possível achar ecos de Trump e Bolsonaro na figura tacanha interpretada por Ruffalo, desde o autoritarismo, até a burrice sem solução e a empáfia sem motivo.

A abordagem do filme sobre colonialismo flerta com algo bom que nunca é devidamente bem explorado. A sátira política fica na superfície e os conflitos entre as espécies carecem de inspiração. Difícil não pensar que a criatividade de Bong Joon-ho não tenha sido podada pelos estúdios. Parece que a ordem foi que a distopia fosse inteligível a todos contextos culturais,isso significa ser um filme extremamente norte-americano, o que pode ter apagado a autoralidade de Joon-ho.

Ao fim, muitas boas ideias são postas em prática, com a performance de Pattinson e o esforço sincero de Bong dando um resultado agradável, embora nada tão profundo quanto poderia ser. A comédia sombria do filme até cai bem, mas poderia ser bem melhor.

Em resumo, “Mickey 17” se segura no talento de Pattinson e na boa mão de Joon-ho,ainda que passe longe de ser sua melhor obra. Os dilemas existenciais são rasos, e a premissa intrigante se dilui num filme que não justifica seu tempo de duração. Pode não agradar a todos os espectadores, mas é um esforço sincero de entretenimento.

Publicidade

Última atualização em: 20 de março de 2025 às 0:35

Compartilhe :

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

Deixe um comentário

Área para Anúncios

Seus anúncios aqui (área 365 x 300)

Publicidade

Matérias Relacionadas

Se inscreva na nossa Newsletter 🔥

Receba semanalmente no seu e-mail as notícias e destaques que estão em alta no nosso portal

Categorias

Publicidade

Links Patrocinados