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Litros de sangue e um fiapo de roteiro tornam “Terrifier 3” uma experiência divertida, mas cansativa

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Quando Art O Palhaço surgiu em 2016 no primeiro filme do que viria a se tornar uma franquia, um certo frisson entre os fãs de terror foi causado. Com um orçamento irrisório, a produção conseguiu arrecadar mais do que gastou quando estreou em 2018 um circuito limitado de salas de cinema.

Quem estava carente da sanguinolência brutal de Jason Voorhees e do sarcasmo de Freddy Krueger, encontrou em Art, a maneira de preencher a falta que um filme slasher sem grandes pretensões estava fazendo, já que a franquia Pânico e Halloween seguem vivas, mas cada vez menos simples de se acompanhar.

Em 2022, Terrifier 2 trouxe mais sangue, mais gore, efeitos especiais muito bem feitos, e também elementos de magia e pesadelo, além de uma final girl carismática.

Dia 31 de outubro chega aos cinemas brasileiros ‘Terrifier 3’, trazendo o palhaço Art como um serial killer no auge da psicopatia, matando qualquer pessoa que apareça, sem nenhuma concessão e sem filtro.

O terceiro longa acompanha a sobrevivente Sienna (Lauren LaVera) indo morar com a tia Jessica (Margareth Anne Florence) após passar um tempo numa clínica psiquiátrica para se recuperar do trauma vivido alguns anos antes. Seu irmão mais novo, Jonathan (Elliott Fullam) tenta levar uma vida normal,  indo para a faculdade, mas perto do Natal, a presença maligna do assassino reaparece e uma nova batalha pela vida recomeça para a garota.

De cara, cabe dizer que assim como nos dois longas anteriores, o ponto forte é a presença, a fisicalidade de David Howard Thornton como Art. O carisma o do personagem o candidata a se tornar um personagem clássico do terror, assim como PinHead, Freddy, Ghost Face, Michael Myers e Jason. O sorriso perturbados, o olhar arregalado e fixo, o jeito de andar e a tendência em se comportar de maneira quase infantil pouco antes de escalpelar alguém, fazem de Art um personagem incrível, em geral distraindo o público do fiapo de roteiro que se apresenta nas produções.

As cenas de matança escalaram a níveis insanos pouco vistos no terror contemporâneo. “Terrifier 3” é praticamente pornografia para quem gosta de sangue e violência. A câmera do diretor não hesita em nenhum momento no foco dos detalhes de carne sendo cortada, vísceras esparramadas e ossos sendo quebrados. O filme passeia por esses momentos como uma sequência de videogame em que cada fase precisa ser mais e mais inventiva em termos de morte.

Enquanto Art aniquila suas vítimas, Sienna tenta se reequilibrar mentalmente, mas é incapaz de seguir em frente pois sabe que o assassino virá buscar a vingança. Lauren LaVera está bem como a vítima de transtorno pós-traumático. A atriz consegue passar bem a sensação de pessoa que está tentando fingir normalidade, sobretudo nas boas interações com convívio com sua prima, a pequena Gabbie (Antonella Rose). A boa performance da atriz pode ser ressaltada quando precisa contracenar com Elliott Fullam. Esse rapaz é muito ruim. A não ser que o diretor tenha orientado uma atuação completamente apática, é difícil imaginar um teste de elenco em que ele tenha sido a melhor opção.

O espectador casual vai ter um choque com “Terrifier 3”. O diretor e roteirista Damien Leone investiu bastante nos requintes de crueldade. Ao contrário de seus pares de filmes slasher, Art não tem uma arma símbolo. Ele usa absolutamente qualquer objeto como forma de torturar suas vítimas. De martelo, a bastão, arma de fogo a faca,passando até mesmo por um extintor com nitrogênio líquido.

Damien Leone pouco se preocupa com costurar uma história. Se no auge do terror francês extremo, a brutalidade gráfica ainda trazia um fio condutor narrativo por trás, em “Terrifier 3”, roteiro é um luxo ausente. Isso faz pesar as duas horas de duração que se torna cansativa devido a total falta de construção de tensão.

Ter de volta o arco Victoria “Vicky” Heyes (Samantha Scaffidi), que deu à luz a cabeça desencarnada de Art durante os créditos de Terrifier 2 poderia ser um trunfo de expansão da mitologia, mas Leone parece não querer contar nenhuma história. A jornada trágica da personagem inicia perturbadora, mas depois fica parecendo apenas uma versão pouco inspirada de “ A Noiva de Chucky”.

Talvez a passagem de maior tensão na trajetória assassina de Art seja quando ele encontra um Papai Noel bêbado num bar e consegue a simpatia dos embriagados presentes mesmo com seu sorriso nada convidativo. É o único momento que verdadeiramente tememos pelo que vai acontecer e a prova de que Thornton entendeu seu protagonista em toda sua ganância por carne e sangue.

Damien Leone, mais uma vez conduz uma matança desenfreada que com certeza vai agradar aos fãs da franquia, mas em termos de evolução narrativo, erra em tudo que se propõe, entregando um enredo desconexo, com pitadas de simbolismo bíblico, narrativa messiânica, tudo embalado em efeitos especiais de cair o queixo e mortes verdadeiramente memoráveis. Se fosse menos longo, se justificaria algumas mortes fora de tela, mas parece que a preocupação do diretor em manter sua franquia relevante após o inesperado tamanho que tomou tem turvado sua capacidade (ainda inexplorada) de apresentar uma narrativa coerente. É certo que franquias como “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-Feira 13” conseguiram estabelecer personagens lendários com histórias de baixa qualidade, mas são outros tempos, e se Leone não tomar cuidado, pode afundar sua maior criação.

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Última atualização em: 1 de novembro de 2024 às 10:57

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