Buscando trazer uma perspectiva positiva sobre territórios periféricos, que a ONG PAC (Projeto Amigos da Comunidade) – que há mais de 21 anos atende a população em situação de vulnerabilidade e/ou risco social nos distritos de Pirituba, São Domingos e Jaraguá, em São Paulo – criou o projeto “Memórias da Quebrada”. A ação faz parte da formação profissional para jovens em situação de vulnerabilidade, ‘Jovem com Futuro (JCF)’, que atende a população entre 15 e 24 anos, na comunidade do Cantagalo, em Pirituba, zona noroeste de São Paulo.
De acordo com Marcos Nascimento, coordenador de projetos sociais na ONG, o projeto surgiu utilizando o conceito de tecnologia social da memória, uma metodologia do Museu da Pessoa, que coleta e compartilha histórias de pessoas e grupos visando a promoção de inclusão, preservação cultural e desenvolvimento comunitário.
A partir da proposta, os 30 alunos do programa ‘Jovem com Futuro’, idealizaram como trabalho de conclusão o documentário. Para isso, os jovens receberam aulas de edição de imagem e vídeo por meio do celular, além de auxílio na elaboração do roteiro das filmagens.
“Nós propomos um trabalho colaborativo, em que o jovem pudesse se aproximar ainda mais da comunidade em que vive e positivar o território a partir dos seus personagens, as pessoas”, comenta Marcos.
O documentário foca no empreendedorismo periférico, trazendo os comerciantes da região do Cantagalo, como protagonistas que apontavam as transformações vividas no território, além dos desafios de empreender. Para as gravações foram disponibilizados aparelhos celulares da ONG PAC e todo material coletado das gravações foi editado nos computadores utilizados pelos alunos durante o curso.
Para Isabelly Cazuza, de 15 anos, moradora do Jaraguá e aluna do Programa Jovem com Futuro, o projeto de conclusão do primeiro módulo do curso, o documentário Memórias da Quebrada, foi desafiador e ao mesmo tempo uma forma de trazer o incentivo e a valorização do pequeno empreendedor periférico. “Nós conversamos com pessoas do comércio dos nossos bairros, fomos responsáveis por conduzir as entrevistas, editar. Trouxe uma responsabilidade e fez olharmos para a história das pessoas com detalhes”, aponta a jovem.
Além do contato com os empreendedores do bairro, o aluno, João Victor Dias, de 16 anos, participou ativamente da produção e edição do documentário e para ele, o projeto proporcionou não só a valorização dos comerciantes periféricos, mas lições e aprendizados para sua vida pessoal e profissional. “Nas entrevistas, muitos destacavam as dificuldades de ser um pequeno empreendedor, da alta competitividade na periferia. Contudo, não desistiam diante dos desafios e buscavam se aprimorar, entender seu segmento. Isso serve para tudo, uma lição mesmo!”, aponta o jovem, que ao final do curso busca ingressar no mercado de trabalho.
Para apresentar o trabalho a comunidade e familiares, a iniciativa possui uma página virtual em que todos podem acessar o material. Segundo Marcos Nascimento, o projeto é uma forma de manter a memória da comunidade a partir dos jovens. “Os próprios alunos selecionaram os empreendedores para as entrevistas e conduziram, além de serem os protagonistas no processo também puderam aprender e enxergar seu território como um espaço de potência com histórias que os inspiram”, comemora Marcos.