Em 2002 estávamos bem longe da atual febre de adaptações cinematográficas baseadas em HQs, mas o ano ofereceu dois grandes expoentes do que viria a seguir. “Homem-Aranha” de Sam Raimi e “Blade 2 – O Caçador de Vampiros”.
Se a aventura do cabeça de teia investia em um visual mais colorido e contava com orçamento mais folgado, a sequência de “Blade” (1998) trazia um clima sombrio, com influências do terror e da ficção científica. Guillermo Del Toro manteve as quantidades de sangue presentes no primeiro filme, mas melhora substancialmente as cenas de ação, misturando de forma crível efeitos práticos e CGI (OK, alguns efeitos digitais envelheceram mal).
O longa apresenta Blade (Wesley Snipes) em uma jornada para combater uma nova raça de vampiros, mais poderosa, os Reapers. Para isso, ele conta com ajuda de seu mentor, Whistler, e um jovem inventor, Scud (Norman Reedus). Para completar essa missão, o anti-herói vai trabalhar ao lado de seus antigos inimigos mortais.
Sem poderes mirabolantes, os confrontos se dão por meio de lutas bem coreografadas, embora alguns efeitos lembrem bonecões digitais. Para as cenas dos confrontos físicos, Donnie Yen, um dos maiores nomes das artes marciais no cinema, ajudou na coreografia, expertise que se destacaria ainda mais em seus filmes posteriores como a franquia O Grande Mestre e em “Rogue One – Uma história Star Wars”. No filme, Yen interpretou o personagem Snowman, um dos membros do Bloodpack, um grupo de vampiros de elite que auxilia Blade na caçada aos reapers.
Além de atuar, Donnie Yen também teve uma contribuição crucial como coreógrafo de luta em Blade II. Ele trouxe seu estilo único de combate, combinando artes marciais tradicionais com movimentos mais modernos e acrobáticos, o que deu ao filme uma identidade visual diferenciada nas cenas de luta.
Ao contrário de muitos filmes que pioram com as sequências, “Blade 2” supera de longe seu antecessor, que já era uma produção divertida. O antagonista, Jared Nomak (Luke Goss) tem uma motivação muito mais simpática que a de Stephen Dorff no filme anterior, e suas habilidades físicas se equiparam ao do protagonista, oferecendo mais sensação de perigo.
A premissa de acompanhar a caçada de um vampiro contra outros oferece a possibilidade de explorar o terror e o gore desse mundo. Divertimento com mutilação, banhos de sangue, uma sociedade decadente que tem medo de vampiros mestiços. Aliás, essa parte oferece uma crítica ao elitismo das criaturas sangue puro, que se fosse mais expandida, poderia ser um bom paralelo ao mundo real.
Wesley Snipes está em plena forma física e cheio carisma, com sarcasmo e implacabilidade. Embora não haja farto material de boas histórias do Blade nos quadrinhos, o ator parece ter se esforçado na pesquisa para conferir a mistura de imponência e sarcasmo que o anti-herói exige.
“Blade 2” é uma das melhores adaptações de HQs, talvez justamente por ter sido feito numa época longe das cobranças sem sentido do grande público frequentador de fóruns de internet. O longa traz algumas das marcas que se tornaram registradas de Del Toro, como o bom uso de maquiagem, elementos de terror e fantasia e criatividade no design dos monstros. Um filme que ainda hoje funciona como passatempo de ação.