Um dos grandes segredos para curtir ao máximo “Abigail” é evitar a estratégia de divulgação da Universal que entregou alguns dos melhores plots nos trailers. O banho de sangue divertido que o filme proporciona se transforma numa experiência mais satisfatória se você não pescar os spoilers visuais da campanha de divulgação.
Um grupo de criminosos sequestram uma bailarina de 12 anos (Alisha Weir) sob a promessa de serem recompensados em US$ 50 milhões, mas as coisas começam a ficar perigosas quando descobrem que estão em posse da filha de uma figura obscura do crime e que agora estão trancados numa mansão isolada com uma garotinha longe de ser comum.
“Abigail” é uma recontagem de “A Filha de Drácula” (1936), mas fora algumas referências, o longa pouco lembra o clássico. Melissa Barrera repete a parceria com os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, responsáveis pela revitalização da franquia “Pânico”. Sua personagem, Joey, encarna bem o arquétipo de durona misteriosa já defendido pela atriz, mas do grupo composto por Dean (Angus Cloud – in memoriam), Sammy (Kathryn Newton), Peter (Kevin Durand) e Acteur (Dan Stevens), quem mais se destaca é Stevens como um ex-detetive de caráter dúbio e personalidade violenta.
O filme é competente em estabelecer o papel de cada integrante do numeroso grupo. Ainda que não escape dos clichês, nenhum dos personagens inspira antipatia a ponto de fazer com que o público deseje que sejam estripados pela ameaça do filme e isso já é um baita positivo dentro do gênero de horror.
Kevin Durand parece se divertir com a sátira de si mesmo em uma carreira marcada por viver alguns capangas brutamontes burros, enquanto isso, infelizmente, o papel de despedida de Angus Cloud, astro de “Euphoria” que faleceu em 2023 é aquém do que o ator poderia oferecer.
A dupla de diretores bem que tenta, mas o resultado de “Abigail” não alcança “Ready or Not”, filme que conseguiu com mais destreza misturar vários dos elementos usados aqui. Mas isso não torna o novo longa da Universal ruim. Longe disso. Suas limitações são contornadas com ótimas cenas de violência, gore e comédia. Afinal, não deixa de ser perturbador acompanhar a jornada sanguinolenta de uma mini-bailarina vampira sedenta por caçar suas presas como se fosse brincadeira de criança.
Já vimos resultado divertido da corporalidade infanto-juvenil a serviço do terror em “M3gan” (2022) e entre esses e outros clichês, “Abigail” acerta por abraçá-los de forma galhofa sem tentar subvertê-lo com humor tresloucado e nem se levar a sério como um inventor da roda.
Seria interessante ver Giancarlo Esposito por mais tempo em tela. Sua aura de liderança gera curiosidade em toda sua aparição, mas as estrelas do filme, Melissa Barrera, Alisha Weir e Dan Stevens cumprem bem seus papéis.
Infelizmente, em seu trecho final, a produção empilha reviravoltas que tornam a experiência cansativa, injetando gordura onde não precisava e inserindo uma ameaça extra que não tensiona o que já vinha sendo construído.
“Abigail” é uma diversão brutal e sanguinolenta que abraça o escapismo com a competência de quem não se leva a sério, mas peca por não saber a hora de parar.
ANO: 2024
PAÍS: IRLANDA/EUA
DURAÇÃO: 109 MIN
DIREÇÃO: TYLER GILLETT, MATT BETTINELLI-OLPIN
ROTEIRO: GUY BUSICK, STEPHEN SHIELDS
ELENCO: MELISSA BARRERA, ALISHA WEIR, KATHRYN NEWTON, KEVIN DURAND, GIANCARLO ESPOSITO, DAN STEVENS