Antes de mais nada, preciso deixar bem explícito que esse texto poderia ser, mas não é uma passada de pano para o Oruam. É um comparativo entre o peso do martelo da justiça e da mídia quando se envolve pessoas negras nas ocorrências. O rapper carioca foi detido na quinta-feira, dia 20, por direção perigosa, na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Menos de uma semana depois, o artista foi preso após a polícia encontrar um foragido da justiça na casa dele.
As detenções e todos os acontecimentos envolvendo o nome do rapaz, que tem apenas 23 anos, me fizeram pensar em como a polícia, a justiça e a mídia brasileira pesam a mão quando se trata de nós. Para se ter uma ideia de como esses segmentos são racistas e elitistas, em cidades gigantes, como é o caso do Rio de Janeiro e São Paulo, existem Projetos de Lei que levam o nome dele, PL Anti-Oruam, que proíbem a contratação de artistas que “fazem apologia ao crime e ao uso de drogas”. Será que preciso entrar na questão do consumo de álcool incentivado pelo “sertanejo universitário”?
A verdade é que o Oruam é filho de um emblemático criminoso carioca que está cumprindo sua pena, privado de liberdade desde os 19 anos de idade, e tudo que o envolve, é mais pesado, mas a mídia não procura o artista quando lança um álbum novo, quando atinge patamares históricos de acessos no YouTube ou Spotify, como ele mesmo citou ao ser conduzido à delegacia.
A música “Oh garota eu quero você só pra mim”, atingiu a marca de 11 milhões de acessos somente no Spotify e 72 milhões de visualizações no YouTube, em apenas dois meses em execução. “Isso a Globo não mostra”. Mas a “midia hegemônica” faz questão de escancarar os erros daqueles que geram entretenimento e influenciam jovens de territórios periféricos. Repito: não estou minimizando o erro dele, mas questiono os métodos jurídicos e midiáticos quando envolvem pessoas negras e brancas.
“Ah, Alessandra, a justiça é igual para todos”. Não vamos ser inocentes e levar isso tão a fundo, porque sabemos que nunca foi e não será. Posso trazer vários exemplos, mas vou pegar um que também aconteceu na Barra da Tijuca. Em julho de 2022, o “modelo” Bruno Krupp atropelou o adolescente João Gabriel Cardim, de apenas 16 anos. A moto que Bruno pilotava estava a nada menos que 150 km/h. O impacto foi tão violento que arrancou a perna de Gabriel que morreu na hora.
Krupp ficou preso algum tempo, mas responde pelo crime em liberdade. Quer outra notícia sobre o mesmo modelo? Ele também responde por estelionato e estupro, além de ter sido parado em uma blitz três dias antes do atropelamento, conduzindo a mesma motocicleta sem placa, sem carteira de habilitação e se recusou fazer o bafômetro.
Quer saber quem é Bruno Krupp? Dá um Google e veja qual a cor da cútis do “modelo” e entenda que o erro do favelado tem um peso, da elite? Apenas uma pluma.
Sobre a colunista
Alessandra Costa é assessora de imprensa com 18 anos de experiência, atendendo o setor artístico-cultural e político, com uma carteira diversa e em potencial expansão. Atualmente, atende contas como Encontro do Cinema Negro Zozimo Bulbul, Cia de Teatro Epigenia e a vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente, Tainá de Paula (PT). Com mais de 400 trabalhos executados, se tornou referência na divulgação de projetos ligados à cultura negra, combate ao racismo e às desigualdades, promoção de oportunidades e conquista de espaços para artistas negros e a lideranças negras – tanto em suas comunidades, na política e na economia.
