Eu sempre digo que o racismo é um sistema perfeito pois mantém os negros ocupados em combatê-lo, logo, sem energia para fazer todas as outras coisas.
Se eu preciso dar uma força para um irmão ou irmã com menos seguidores que sofreu racismo numa loja, eu não estou escrevendo sobre as coisas que gosto, dando espaço para brancos escreverem. Se eu sofro racismo, não trabalho porque tento buscar justiça dentro de um judiciário branco que me ignora e tenho que falar com policiais que me odeiam.
Um jogador de futebol retinto, atacado constantemente pela sua cor, precisa usar dez vezes mais energia para se concentrar do que um branco já que, além da missão em campo, precisa tentar ignorar que as ofensas não são apenas para ele, mas para sua família, que tem o mesmo fenótipo e história. É muita dor.
O racismo nos ocupa porque é uma forma de explorar nossa indignação. O racista sabe que de uma forma ou outra vamos reagir, lhe dar atenção, massagear seu ego debatendo e, ao mesmo tempo, o racista sabe que não será punido pois ele é material formador do status quo.
Se houvesse antirracismo entre os companheiros de time, o Real Madrid, time mais poderoso do mundo, se recusaria a entrar em campo até que a federação espanhola agisse e isso moveria um movimento pelo mundo, mas quem quer sair do luxo e lutar a luta dos que são tratados como lixo?
Há os pretos e pretas que choram doído, os que ficam com raiva, os que calam e fingem que nada acontece, os que buscam integração com o mundo branco e os que se cercam dos seus, mas todos sentimos a dor no mesmo lugar, há muitos e muitos anos.
Ter fama, dinheiro, ter talento, até mesmo ter desenvolvido autoestima contra todas as possibilidades, não é o suficiente quando sua existência parece uma ofensa para milhões de pessoas que te odeiam apenas por você ter nascido como você é.
Por onde começará a revolução? Haverá o dia que meninos negros poderão chorar por outros motivos que não o ódio dos brancos? Não sei.