Os olhos profundos e amendoados de Maria do Carmo, que carregou consigo dois apelidos em sua curta vida: Carminha e Bituca. Este último, herdado por seu filho, como é óbvio, o consagrado Milton Nascimento.
O rosto da mãe biológica é um registro divulgado por Vilma Nascimento, prima do artista. Carminha faleceu aos 25 anos de idade, vítima de tuberculose e, embora tivesse relutado em deixar o filho com Augusta, a dona da pensão em que trabalhava, sentiu que acabaria prejudicando a saúde do pequeno Milton. O pai do menino nunca procurou a criança.
Maria amava a música e gostava de cantar. Segundo as memórias resgatadas pela família, ela fechava os olhos e soltava a voz, afinada e cheia de sentimento. No entanto, a pretitude e a pobreza não lhe legou oportunidades.
A gravidez, a qual o parceiro resistiu em assumir, ir morar na favela, um filho a caminho, uma doença sem tratamento para mulheres nas condições dela. Uma história que até hoje se repete em cada favela do Brasil.
A história de Maria do Carmo vai virar livro. Intitulada “De Onde Vem Essa Força” (ainda sem editora), a biografia visa jogar luz a uma história cotidiana, sofrida, e ao mesmo tempo de garra e força.
E ela vive na arte do filho, eternizada no clássico “Maria, Maria”: Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor/
É a dose mais forte e lenta/ De uma gente que ri quando deve chorar/ E não vive, apenas aguenta/ Mas é preciso ter força, é preciso ter raça/ É preciso ter gana sempre/ Quem traz no corpo a marca/ Maria, Maria mistura a dor e a alegria.
Há tantas Marias por aí, e maioria não terá sequer um refrão dedicado à suas existências, mas que bom que ao menos uma ganhou uma canção inteira. E que contra todas as possibilidades, nossas Marias sigam possuindo “a estranha mania de ter fé na vida”.