Um Pedro, um Paulo, um Soares, um Pereira, o Mano Brown. Um símbolo, “um um sádico, um anjo, um mágico,
Juiz ou réu, um bandido do céu, Revolucionário, insano ou marginal, Antigo e moderno”.
Mano Brown conseguiu virar lenda em vida. Isso era impossível para qualquer pessoa preta até um tempo atrás. Mesmo Tim Maia, teve de ser reabilitado após a morte.
Um dos maiores letristas da nossa música, com a poesia nascendo de um lugar ancestral, distante, místico, à revelia da educação formal, mas formado na instrução das violentas periferias de São Paulo dos anos 80 e 90.
Quando Mano Brown abraçou Neymar na volta do jogador ao Santos, quando decidiu levar Fernando Holiday ao podast Mano a Mano, quando prefere não abrir munição contra as besteiras de uma geração de novos rappers que maltratam a cultura hip hop, podemos enxergar também suas contradições e ainda bem que elas estão bem visíveis.
A cultura hip hop não precisa de homens pretos perfeitos e canonizados, mas de homens pretos vivos, exercendo seu direito de errar, aprender, refletir, e também se calando quando preciso.
É possível ver em Mano Brown um lance paternalista com os outros manos do movimento, que nem sei se ele destina o meso carinho para dentro de si, de sua família. Ele sabe que é um símbolo e é difícil saber o quanto se deixa de viver quando você não é mais humano, mas um totem de exemplo para milhares de pessoas.
Em alguns vídeos, é possível ver Mano Brown falando sobre solidão, tristeza. E se não tivesse escravidão, se não tivesse ditadura militar, se não tivesse grupos de extermínios em São Paulo, se jovens pretos tivessem acesso a tudo desde lá atrás, nós teríamos apenas o Pedro Paulo, talvez uma lenda da ciência, ou não, um homem comum que não precisou cantar pra mais de 50 mil manos que “os ricos fazem campanha contra as drogas, falam sobre o poder destrutivo dela.
Por outro lado promovem e ganham muito dinheiro com o álcool que é vendido na favela”.
Mas hipóteses são hipóteses. Temos de celebrar que um homem preto chegou aos 55 anos, belo, e com suas bem-vindas contradições