Eu não tô aqui para palestrar ou enfiar goela baixo minha religião, mas nós, pessoas pretas, deveríamos ressaltar a importância dessas religiões para nossa sobrevivência. Candomblé e a Umbanda nos abraçaram quando o mundo quis nos mutilar, independente de tudo. E segue sendo assim até hoje.
Candomblé é o nosso primeiro contato com o aquilombamento, comunidade. Eu também já tive medo, receio. A ignorância me fazia temer algo que nasceu comigo. Anos se passaram, no meio das militâncias, das vivências, das luta e lá estava ele: O CANDOMBLÉ. É impossível ser militante sem as asas que o candomblé me deu. Ele está presente nos chás, nas rezas, nas confraternizações, na nossa SOBREVIVÊNCIA. E de novo, você pode não cultuar, você pode não frequentar e até não gostar, mas você DEVE E PRECISA respeitar.
Eles caminharam para que a gente estivesse aqui, inclusive, para que a gente pudesse fazer escolhas. Lembro que fui em um evento na Casa Favela e ouvi o ogã de Ogun, Renzo Carvalho, filho de Pai Vitor, dizer algo que com toda certeza, vai me tocar pra sempre. Ele dizia que no terreiro, não importa o quanto você poderia ser pequeno para o mundo, mas para Orixá, diante dos olhos e do amor do Orixá, você sempre será um filho amado. Uma doméstica no transe vira Oyá, assim como um homem que é desprezado na sociedade, vira Ogun. Nesse momento, eu lembrei de todos os momentos que me senti uma formiga, e mesmo me achando uma formiga, Odé, o caçador, sempre fez com que eu me sentisse muito amada, importante e capaz.
Oyá sempre me direcionou aos caminhos certos, e Osun não permite que eu me diminua para caber em nenhum espaço que não seja meu. Existiram momentos que eu só tinha minha fé nos meus Orixás, a graças a eles, e a todos eles, eu estou aqui, escrevendo para pessoas que nunca vi e talvez nunca pisem em um terreiro. Respeitem nosso axé, nosso povo, nossa liberdade, nossos cultos ancestrais. Respeitem quem caminhou e enfrentou o açoite para que hoje a gente possa correr, caminhar e discutir. Cultue sua fé como quiser, desde que você não desrespeite o nosso axé.