Composta de uma série de apresentações em diferentes espaços culturais de São Paulo, a temporada de estreia da performance de dança Anunciação, primeiro espetáculo do Bando Macuas Cia Cênica, seguirá em cartaz até o dia 12/12.
Idealizada pela diretora e coreógrafa Débora Marçal, que além da formação em Dança é também atriz, figurinista, cenógrafa e joalheira, o Bando Macuas Cia Cênica surgiu de uma experiência de imersão vivenciada pela multiartista paulistana durante uma viagem feita por ela em 2012 a Moçambique, quando Débora participou de um intercâmbio artístico-cultural no país afro-lusófono com a Capulanas Cia de Arte Negra, grupo teatral formado por ela, em 2007, em parceria com a atriz e cientista política Adriana Paixão, a atriz e dançarina Flávia Rosa e a atriz e dançarina Priscila Obaci.
Com apresentações em equipamentos públicos de grande circulação como o CCJ – Centro Cultural da Juventude e o Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá, a temporada do espetáculo Anunciação se estenderá até o dia 12 de dezembro, quando serão completadas as dez apresentações. De acordo com a diretora, as performances também devem passar por improvisos e adequações da dinâmica, graças à interlocução com a plateia. Ao abordar essa questão, Débora também destaca uma temática central para a concepção do espetáculo: a conexão com a ancestralidade como uma das chaves para a compreensão da contemporaneidade.
“Em Anunciação utilizo o conceito de corpo-memória para fazer perguntas do tipo: como é que a gente se movia antes do rapto e de chegarmos nesse país no período escravocrata? Nosso processo de recordar e inventar está nesse campo do corpo-memória, do entendimento de que a gente precisa de espelhos. Beatriz Nascimento afirmava que a gente precisa da imagem para existir. Se não vemos pessoas como nós, é como se nós não existíssemos. Não por acaso usamos no rosto o mussiro, uma máscara branca feita de tronco de uma planta, que remete à beleza das mulheres do povo Macua. A maioria de nós, se não todas, ainda mantém vivências com nossas tradições como o candomblé e as manifestações populares negras. Nessas manifestações podemos ver exatamente como trabalha nossa ancestralidade. Ao mesmo tempo em que você vai ao Congado e vê o mais velho com o apito, com o bastão, tocando e cantando, ao lado dele está também a criança que vai seguir a vida inteira na tradição até que seja o mais velho da comunidade. Isso não acaba. Nós estamos estudando o Tempo Espiralar, conceito cunhado pela professora Leda Maria Martins, e quando cheguei em Jatobá e Ibirité, duas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário de Minas Gerais que visitei como parte da pesquisa sobre os Congados, entendi muito mais o que Dona Leda estava falando. A chave da compreensão estava lá. Eles seguem uma tradição que vem de 200, 300 anos. Isso é a contemporaneidade com o pé na tradição. É o conceito vivo do tempo espiralar da professora Leda, que nos provoca a pensar que nossa dança deve funcionar nessa chave de saber, que une tradição e contemporaneidade. Quando o Bando Macuas vai pra rua ele se apresenta com os objetos do agora”, conclui a diretora.
SERVIÇO
Anunciação
Performance de dança do Bando Macuas Cia Cênica com idealização, direção e coreografia de Débora Marçal
COMUNIDADE CULTURAL QUILOMBAQUE
Dia 12 de dezembro – 02 apresentações
Horário: 15h e 20h
Travessa Cambaratiba, 05 – Perus